Memorial Do Convento – Linguagem e Estilo
Em Memorial do Convento, torna-se
notória a fuga às regras da gramática normativa tradicional na utilização da
pontuação, o que confere ao texto fluidez rítmica, aproximando-o do discurso
oral ou do ritmo do pensamento. É normalmente a vírgula que separa as falas das
personagens. Os pontos de exclamação e de interrogação são omissas, assim como
qualquer referência do narrador a estes tipos de entoação, o que, contudo, não
impede o leitor de os percecionar. Evidente também é o hibridismo de tipologias
discursivas, pois o narrador utiliza os discursos direto, indireto e indireto
livre, sem proceder às demarcações tradicionais ao nível gráfico (dois pontos
seguidos de travessão) e lexical (recurso aos verbos que introduzem o discurso direto
como declarar, perguntar, acrescentar, etc.).
As frases e a ausência de pontuação
favorecem a pluralidade de vozes que se observa em Memorial do Convento. Com
efeito, a estrutura sintática infringe intencionalmente a norma, prestando-se a
leituras que alternam o discurso escrito com o discurso oral e, sobretudo, com
um discurso monologado que resulta da mistura de vozes que se produzem no
pensamento das personagens.
Várias são as marcas linguísticas e
estilísticas: a metáfora, a ironia, a hipálage, as oposições, as frases longas,
os paralelismos de construção, a enumeração polissintética, a utilização do
registo de língua familiar e popular (com sentido irónico e crítico ou como
forma de tradução do estrato social das personagens), utilização do gerúndio,
do presente do indicativo, do modo imperativo…