quarta-feira, 7 de maio de 2014

Parnasianismo; Bibliografia - Cesário Verde; O simbolismo n'Os Maias

Parnasianismo

Como muitos dos movimentos culturais, o Parnasianismo teve sua inspiração na França, de uma antologia poética intitulada O Parnaso contemporâneo, publicada em 1866. Parnaso era o nome de um monte, na Grécia, consagrado a Apolo (Deus da luz e das artes) e às musas (entidades mitológicas ligadas às artes).  
No Brasil, em 1878, em jornais cariocas, um ataque à poesia do Romantismo gerou uma polémica em versos que ficou conhecida como a Batalha do Parnaso. Entretanto, considera-se como marco inicial do Parnasianismo no país o livro de poesias Fanfarras, de Teófilo Dias, publicado em 1882. O Parnasianismo prolongou-se até a Semana de Arte Moderna, em 1922. 
O Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo foram movimentos literários contemporâneos: Realismo e Naturalismo na prosa, e Parnasianismo na poesia. Enquanto a prosa realista representou uma reacção contra a literatura sentimental dos românticos, a poesia parnasiana pregou a rejeição do “excesso de lágrimas” e da linguagem coloquial e declamatória do Romantismo, valorizando o cuidado formal e a expressão mais contida dos sentimentos, com um vocabulário elaborado (às vezes, incompreensível por ser tão culto), racionalista e temática voltada para assuntos universais. 

Características:
- Formas poéticas tradicionais: com esquema métrico rígido, rima, soneto. 
- Purismo e preciosismo vocabular, com predomínios de termos eruditos, raros, visando à máxima precisão, e de construções sintáticas refinadas. Escolha de palavras no dicionário para escrever o poema com palavras difíceis. 
- Tendência descritivista,buscando o máximo de objetividade na elaboração do poema, assim separando o sujeito criador do objeto criado.
- Postura antirromântica, baseada no binômio objetividade temática/culto da forma.
- Destaque ao erotismo e à sensualidade feminina. 
- Referências à mitologia greco-latina. 
- O esteticismo, a depuração formal, o ideal da “arte pela arte”. O tema não é importante, o que importa é o jeito de escrever, a forma.
- A visão da obra como resultado do trabalho, do esforço do artista, que se coloca como um ourives que talha e lapida a joia. 
- Transpiração no lugar da inspiração romântica. O escritor precisa trabalhar muito, “suar a camisa”, para fazer uma boa obra. O poeta é comparado a um ourives.  














Bibliografia - Cesário Verde

O poeta português José Joaquim Cesário Verde nasceu em Lisboa no dia 25 de fevereiro de 1855. 

Conhecido por seus dois últimos nomes, ele é visto como um dos predecessores  e grande influência do estilo poético realizado no século XX em Portugal.

Cesário Verde teve uma origem humilde, era filho de um comerciante e agricultor chamado José Anastácio Verde e de Maria da Piedade dos Santos Verde. Em 1873, inicia seus estudos acadêmicos no Curso Superior de Letras, mas frequenta as aulas por apenas alguns meses. Neste período, acaba conhecendo um amigo que levaria para o resto da vida, Silva Pinto, também português e escritor. Naquela época, as atividades de Cesário eram produzir muitas poesias, que acabavam sendo publicadas em periódicos, além de trabalhar no comércio, ofício que herdara de seu pai.

tuberculose foi uma maldição na vida de Cesário Verde. Após perder a irmã e o pai para esta doença, o poeta começa a ter sintomas da enfermidade em 1877. Apesar da tristeza que tudo isso lhe causava, o mal lhe serviu de inspiração para a produção de um de seus mais belos poemas, “Nós”, de 1884.

“Ora, meu pai, depois das nossas vidas salvas
(Até então nós só tivéramos sarampo),
Tanto nos viu crescer entre uns montões de malvas
Que ele ganhou por isso um grande amor ao campo!”
(trecho da poesia “Nós”)

Cesário Verde não conseguiu escapar da doença e faleceu aos 30 anos, em 19 de julho de 1886. Silva Pinto, em sua homenagem, organizou uma compilação com a poesia do amigo, que chamou de “O Livro de Cesário Verde”. Em 1901 este livro foi publicado.

Na poesia de Cesário Verde, alguns temas predominantes são o campo e a cidade. Seu estilo era delicado, com emprego de artifícios impressionistas e uma sensibilidade dificilmente vista no meio literário. A forma de expressão utilizada era mais natural, pois o poeta evitava o lirismo clássico.

As características mais importantes encontradas na análise de sua obra são imagens muito visuais que tinham o objetivo de dimensionar a realidade do mundo, a mistura do moral com o físico, a combinação de sensações, comparações, metáforas, sinestesias, versos decassílabos e quadras.

Um tema recorrente nas poesias de Cesário Verde é a mulher. Ele nos apresenta dois tipos femininos, sempre atrelados aos locais em que ambienta seus versos. Na cidade, cria uma mulher calculista, madura, frívola, fria, autodestrutiva e dominadora. Em sua representação do campo, o poeta monta arquétipos de mulheres pobres, feias, doentes, esforçadas e trabalhadoras.














O simbolismo n'Os Maias
Número 3
 Maria Eduarda é a terceira figura feminina na panóplia de três gerações da família Maia apresentadas na obra. Simbolicamente, o númerotrês é o número da completude e implica a conjugação de três momentos temporais: o passado, o presente e o futuro, ou seja, a mulher aparece na obra como um factor de transformação do mundo masculino, conduzindo à esterilidade, à estagnação. O terceiro elemento feminino torna-se a revelação simbólica dos outros dois que foram nefastos à família.

A Toca, a Chave os aposentos de Maria Eduarda
Toca é o nome dado à habitação de certos animais, apontando desde logo para o carácter animalesco do relacionamento amoroso entre Carlos e Maria EduardaCarlos introduz a chave no portão da Toca com todo o prazer, sugerindo não só poder mas também o prazer das relações incestuosas (é de lembrar que a chave é um símbolo fálico).
Da segunda vez que se alude à chaveos dois amantes experimentam-na o que passa a simbolizar a aceitação e entrega mútua.
 Os aposentos de Maria Eduarda simbolizam a tragicidade da relação, estando carregados de presságios: nas tapeçarias do quarto “desmaiavam, na trama de lã, os amores de Vénus e Marte”, de igual modo este amor de Carlos e Maria Eduarda estava condenado a desmaiar e desaparecer; “... a alcova resplandecia como o interior de um tabernáculo profano...” misturando o sagrado e o profano para simbolizar o desrespeito pelas relações fraternas. Carlos mostrava-se indiferente aos presságios, inconsciente e distante, mas Maria Eduarda impressiona-se ao ver a cabeça degolada de S. João Baptista, que foi degolado por ter denunciado a relação incestuosa de Herodes, e a enorme coruja a fitar, com ar sinistro, o seu leito de amor (lembre-se que a coruja é considerada uma ave de mau agoiro, que surge aqui para vaticinar um futuro sinistro para este amor)O ídolo japonês que há na Toca remeta para a sensualidade exótica, heterodoxa, bestial desta ligação incestuosa. Na primeira noite de amor entre Carlos e Maria Eduarda, a qual se dá precisamente na Toca, dá-se uma grande trovoada como que a pressagiar um mau ambiente que se criaria resultante deste incesto.

O Ramalhete
O Ramalhete está simbolicamente ligado à decadência moral do Portugal da Regeneração. O ramo de girassóis que ornamenta a casa simboliza a atitude do amante, que como um girassol, que se vira continuamente para olhar o ser amado;girando sempre, numa atitude de submissão e de fidelidade para com o ser amado, o girassol associa-se à incapacidade de ultrapassar a paixão e a falta de receptividade do ser amado, ligando-se assim a Pedro e a Carlos.

jardim do Ramalhete é rico em simbologias. Numa primeira e última fases, este espaço evidencia a tristeza e o abandono, e na desolação do jardim, sobressaem três símbolos do amor puro e imortal. O cipreste(símbolo da morte) e o cedro (símbolo doenvelhecimento), unidos entre si por laços quase míticos que se perdem nos anais da mitologia grega, inseparáveis em vida, envolvidos num amor puro e forte e cuja recompensa foi a união incorruptível das suas raízes, que a tudo resistem, emblematizando o Amor Absoluto.


Cores
Um prolixo cromático povoa Os Maias, cumprindo não só os postulados do impressionismo, mas também os do simbolismo.

vermelho tem na obra um carácter duplo: ora feminina e nocturnacentrípetoora masculina e de poder centrífugo. Maria Monforte e Maria Eduarda são portadoras de um vermelho feminino, fogo que desencadeia a libido e a sensibilidade, espalham a morte provocando o suicídio de Pedro, a morte física de Afonso e a morte psicológica de Carlos. Já os olhos vermelhos de Afonso e a vela vermelha que ele trazia na mão incomodaram tanto Carlos que este anteviu a morte, que de facto estava para acontecer no jardim do Ramalhete.

A casa do Ega, a Vila Balzac, tem uma grande concentração de cores, dispostas em espaços bem definidos: “verde feio e triste” na sala, sala de jantar amarela, quarto vermelho, cozinhaverde e branca. O vermelho do quarto é tão intenso que indica a dimensão essencialmente libidinosacarnal e efémera dos encontros de amor com Raquel Cohen. O amarelo/dourado indica o carácter ardente da paixão, tendo um significado duplo: cor do ouro de essência divina; cor da terra simbolizando o Verão e o Outono, anunciando a velhice, o Outono e a proximidade da morte.

Maria Monforte e Maria Eduarda conjugam o vermelho (leque negro [negro conotado com morte e luto] pintado com flores vermelhas, sombrinha escarlate) com o amarelo/dourado (cabelos de ouro), pelo que, tanto simbolizam a vida como a morte, o divino e o humano.

Afonso vê Pedro e Maria Monforte juntos num passeio. Maria Monforte traz um vestido cor-de-rosa que cobria os joelhos de Pedro, condizendo com as fitas do chapéu, também cor-de-rosa,simbolizando a vida romântica em que Pedro se deixou enlear. O azul dos olhos de Maria que, embora azuis da cor do céu, eram de um “azul sombrio” prevendo sombras, tristezas e complicações para este amor. O caminho por onde estes passeavam era verde e fresco, mas a ramagem que o circundava pareceu, a Afonso, de um verde triste, prenunciando luto e tristeza que ensombraria aquela união; embora o verde seja símbolo da primavera, e por isso devia ser alegre, este verde é sombrio, pressagiando que a primavera da vida de Pedro também vai ser sombria. A sombrinha vermelha que envolvia Pedro lembrou a Afonso “uma larga mancha de sangue” em que, de facto, Pedro vai morrer. O presságio do sangue pode ainda ser visto à luz dos netos de Afonso que, sendo do mesmo sangue, se vão envolver numa relação incestuosa, manchando a honra familiar dos Maias.

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