quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Teatro Épico

O conceito de teatro épico diz respeito a um teatro didático que procura uma distanciação entre personagem e espectador para que este seja capaz de refletir e apreender a lição social proposta. Este conceito é apontado, por volta de 1926, pelo poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956), que opõe ao teatro clássico e tradicional (teatro aristotélico) um teatro narrativo que em vez de suscitar emoções e sentimentos desperta uma atitude crítica.
teatro épico, proposto por Brecht, contrapõe-se à tragédia clássica para melhor conseguir o efeito social. Enquanto o teatro clássico conduz o público à ilusão e à emoção, levando-o a confundir o que é a arte com a vida real, no teatro épico a "distanciação" deve permitir o envolvimento do espectador no julgamento da sociedade. Por isso, o teatro épico implica comprometimento, crítica contra o individualismo, consciencialização perante o sofrimento dos outros e a realidade social. Deve, na sua tarefa pedagógica, instruir os espectadores na verdade e incitá-los a atuar, alertando-os para a condição humana. O espectador deve ter um olhar crítico para se aperceber melhor de todas as formas de injustiças e de opressões. 
De acordo com Brecht, o teatro épico é um drama narrativo que nos oferece uma análise crítica da sociedade, procurando mostrar a realidade em vez de a representar, para levar o espectador a reagir criticamente e a tomar posição. Propõe que o espectador seja um observador crítico capaz de se indignar com as injustiças quotidianas. Para isso, opõe-se à conceção aristotélica de que o espectador deveria sentir o que se passava no palco, naquele momento de representação, e começa a defender o Verfremdungseffekt (ou efeito V), que se pode traduzir por "efeito de distanciação".
Brecht, nos seus Estudos sobre Teatro, fala do efeito de estranheza e de distanciação, que o recurso à história ou a um processo de construção de parábolas permite refletir sobre uma realidade próxima. Brecht propõe um afastamento entre o ator e a personagem e entre o espectador e a história narrada para que, de uma forma mais real e autêntica, possam fazer juízos de valor sobre o que está a ser representado. O ator deve, lucidamente, saber utilizar o "gesto social", examinando as contradições da personagem e as suas possíveis mudanças, que lhe permitam acentuar o desfasamento entre o seu comportamento e o que representa. Isto permite ao público espectador uma correspondente distanciação à história narrada e, sequentemente, uma possível tomada de consciência crítica, aprendendo o prazer da compreensão do real, a sua situação na sociedade e as tarefas que pode realizar para ser ele próprio.
Este efeito de estranheza e de distanciação acaba por conduzir a uma aproximação entre o ator e o espectador, na medida em que os dois se distanciam em relação à história narrada e podem, como pessoas reais, discutir o que se passa em palco. Ao contrário do teatro clássico não há um efeito alucinatório ou hipnótico que permita tomar a representação pela própria realidade. 

Em Felizmente Há Luar!, de Sttau Monteiro, o tempo, o espaço e as personagens são trabalhadas de modo a que a distanciação se concretize, recorrendo, muitas vezes, a um historiar dos acontecimentos representados e ao acentuar da precisão do lugar cénico. Ao dramaturgo, interessa-lhe que o ator se revele lúcido e, sobretudo, que o espectador se confronte e se esclareça, partindo da identificação inicial de dois tempos e dois mundos diferentes.
Felizmente Há Luar! destaca a preocupação com o homem e o seu destino; realça a luta contra a miséria e a alienação; denuncia a ausência de moral; alerta para a necessidade de uma superação com o surgimento de uma sociedade solidária que permita a verdadeira realização do Homem. São estes os objetivos de Sttau Monteiro, que evoca situações e personagens do passado usando-as como pretexto para falar do presente. Escrita em 1961, surge como máscara para que se possa tirar exemplo nesse presente ditatorial. Mas mais do que fazer a ligação entre dois momentos - o início do século XIX e o século XX - a sua intemporalidade remete-nos para a luta do ser humano contra a tirania, a opressão, a traição, a injustiça e todas as formas de perseguição.



Fonte: http://www.infopedia.pt/$teatro-epico

Felizmente Há Luar! , Luís de Shau Monteiro

Texto Dramático

Características:

Estrutura externa:
o teatro tradicional e clássico pressupunha divisões em:
- actos, correspondentes à mudança de cenários,
- cenas , equivalentes à entrada ou saída de personagens em cena.
O teatro moderno, narrativo ou épico, põe de parte estas regras tradicionais de divisão na estrutura externa.

Estrutura interna 
Uma peça de teatro divide-se em:
• Exposição – apresentação das personagens e dos antecedentes da acção.
Conflito – conjunto de peripécias que fazem a acção progredir.
Desenlace – desfecho da acção dramática.

Modalidades do Discurso Texto Principal 
Refere-se às falas dos actores. 
Pode ser constituído por:
Monólogo – uma personagem, falando consigo mesma, expõe perante o público os seus pensamentos e/ou sentimentos;
Diálogo – falas entre duas ou mais personagens;
Apartes – comentários de uma personagem para o público, pressupondo que não são ouvidos pelo seu interlocutor.

Texto Secundário (ou didascálias, ou indicações cénicas) destina-se ao leitor, ao encenador da peça ou aos actores.
O texto secundário é composto:
- pela listagem inicial das personagens ( que ocorre habitualmente antes de cada cena)- pela indicação do nome das personagens no início de cada fala;
- pelas informações sobre a estrutura externa da peça (divisão em actos, cenas ou quadros);
- pelas indicações sobre o cenário e guarda roupa das personagens;
- pelas indicações sobre a movimentação das personagens em palco, as atitudes que devem tomar, os gestos que devem fazer ou a entoação de voz com que devem proferir as palavras.

Categorias do texto dramático – algumas particularidades

AÇÃO – desenrolar dos acontecimentos, através do diálogo e da movimentação das personagens 

PERSONAGENS – agentes da ação. 

ESPAÇO
Espaço – o espaço cénico é caracterizado nas didascálias, onde surgem indicações sobre pormenores do cenário, efeitos de luz e som. 
Coexistem normalmente dois tipos de espaço: 
• Espaço representado – constituído pelos cenários onde se desenrola a acção e que equivalem ao espaço físico que se pretende recriar em palco; 
• Espaço aludido – corresponde às referências a outros espaços que não o representado. 

TEMPO 
•Tempo da representação – duração do conflito em palco; 
• Tempo da acção ou da história – o(s) ano(s) ou a época em que se desenrola o conflito dramático; 
• Tempo da escrita ou da produção da obra – altura em que o autor concebeu a peça.

 INTENÇÕES DO AUTOR 
Quando escreve uma peça de teatro, o dramaturgo pode ter uma intenção:
• Moralizadora (distinguir o Bem do Mal);
• Lúdica ou de evasão (entretenimento, diversão, riso);
• Crítica em relação à sociedade do seu tempo;
• Didáctica (transmitir um ensinamento).

PROCESSOS DE CÓMICO
• Situação – o que a personagem faz é cómico e inesperado.
• Carácter – desadequação do perfil da personagem.
• Linguagem – recurso à ironia, ao calão… resultado num efeito cómico ou ridículo.

FORMAS DO GÉNERO DRAMÁTICO
• Tragédia
• Comédia
• Drama
• Teatro Épico.

OUTROS INTERVENIENTES NO TEXTO DRAMÁTICO 
• dramaturgo – autor 
• encenador – prepara e orienta os atores 
• cenógrafo – prepara o cenário 
• sonoplastia – efeitos sonoros 
• luminotecnia – efeitos luminosos 
• ator – representa as personagens