quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Categorias da narrativa

Ação

Na acção, o Rei D. JoãoV , Baltasar, Blimunda e Bartolomeu Lourenço protagonizam as diversas acções que se entretecem em Memorial do Convento.
A acção principal é a construção do convento de Mafra. Esta resulta da reinvenção da História pela ficção. Situa-se no inicio do séc. XVIII, encontrado-se enlaçados dados Históricos, como o da promesssa de D. João V de construir um convento em Mafra, e o do sofrimento que nele trabalhou. Percebe-se a situação económica e social do país, os autos de fé praticados pela Inquisição, o sonho e a construção da passarola pelo padre Bartolomeu, as críticas ao comportamento do clero, os casamento da infanta Maria Bárbara e do príncipe D. José.
Em paralelo com a acção principal decorre uma acção que envolve Bartolomeu - Sete Sóis - e Blimunda - Sete Luas -. São estas personagens que estabelecem o fio condutor da intriga e que lhe conferem fragmentos de espiritualidade, de ternura, de misticismo e de magia.
A centralidade conferida ás obras do Convento e aos espaços sociais de Lisboa ou de Mafra dão frequentemente lugar a uma intriga de profunda humanidade trágica. As duas acções voluntariamente surgem em fragmentos que se reconstituem por encaixes vários e recriam situações, costumes, tradições, ambientes e problemas. 

Personagens:

Rei D. João V:

· Rei vaidoso, egocêntrico, megalómano e libertino;
· Rico e poderoso - não sabe o que fazer com tanta riqueza;
· Arrogante - a vontade do rei é divina;
· Tem " medo de morrer";
· É ridicularizado pelo narrador que recorre à caricatura e ao tom irónico na sua descrição.

Baltazar:

·  Homem do povo nascido em Mafra;
·   Não tem a mão esquerda;
·  Tem a alcunha de Sete Sóis;
·   Apaixonado por Blimunda;
·  Sonhador, constrói a Passarola;
·   Morre queimado num auto-de fé (54 anos).

Blimunda:

·  Mulher misteriosa, fiel, intuitiva e inabalável no amor;
·  Possui o dom da vidência, vê o interior dos corpos;
·  Tem a alcunha de Sete Luas;
·  Tem uma sabedoria muito própria, é inteligente.


Padre Bartolomeu de Gusmão:

-Sonhador, visionário e culto;
-Capelão na corte e amigo de D. João V;
-Nascido no Brasil;

· Possui uma visão muito própria da religião pois:
-Abençoa a relação de Baltazar e Blimunda;
-Aceita o dom de Blimunda;
-É muito ligado à ciência.

·  Possui um espírito cientifico que o vai afastando da igreja progressivamente;
· O seu conhecimento e estudos levam-no a interrogar-se acerca dos dogmas católicos;
· Tem medo da Inquisição pois está consciente de que fez coisas condenadas pelo Santo Oficio como, a construção da Passarola;
·   Morre louco em Toledo;



Domenico Scarlatti:

-Músico italiano, nascido em Nápoles;
-Talentoso, culto e sonhador;
-Professor de D. Maria Barbara;
-Trava amizade com o Padre Bartolomeu na corte do rei;
-Tem conhecimento da existência da Passarola e interessa-se pelo engenho;
-A sua música possui um poder curativo e inebriante.




O povo:

-Populares anónimos, analfabetos e oprimidos;
-Trabalhadores humildes;
-Sacrificados e sujeitos à exploração dos poderosos;
-Elevados a herói pelo narrador.


Espaço 


Memorial do Convento apresenta três tipos de espaço: o espaço físico, o espaço social, o espaço psicológico. Espaço Físico: São dois os espaços físicos nos quais se desenrola a acção: Lisboa e Mafra. 

Lisboa- Enquanto macroespaço, integra outros espaços Terreiro do Paço Local onde Baltasar trabalha num açougue, após a sua chegada a Lisboa Rossio Este espaço aparece no início da obra como local onde decorre o auto-de-fé S. Sebastião da Pedreira Espaço relacionado com a passarola do Padre Bartolomeu de Gusmão e com o carácter mítico da máquina voadora 



 Rossio – Auto-de-fé Gravura do séc. XVIII

 O alto da Vela foi o local escolhido para a construção do convento. - Nas imediações da obra, surge a “Ilha da Madeira”, onde começaram por se alojar dez mil trabalhadores, chegando, mais tarde, a quarenta mil. Além de Mafra, são referidos os espaços de Pêro Pinheiro, serra do Barregudo, Monte Junto e Torres Vedras. Nota : as referências ao Alentejo apresentam um espaço povoado de mendigos e de salteadores. Mafra É o segundo macroespaço
Espaço Social – Lisboa e Mafra O espaço social é construído através do relato de determinados momentos e do percurso de personagens que tipificam um determinado grupo social. Destaque:

1- Procissão da Quaresma – caracterização da cidade de Lisboa; excessos praticados durante o Entrudo; penitência física; a descrição da procissão; as manifestações de fé que tocavam a histeria com os penitentes a autoflagelarem-se.
2- Autos-de-fé (Rossio) – entre os autos-de-fé e as touradas, o povo revela gosto sanguinário e emoções fortes; a assistência feminina preocupa-se com os pormenores fúteis e com os jogos de sedução; a morte dos condenados é motivo de festa.  
3- Tourada (Terreiro do Paço) – os touros são torturados, o público exulta com o espectáculo.
4- Procissão do Corpo de Deus – as procissões caracterizam Lisboa como um espaço caótico, cujo ritual tem um efeito exorcizante.
5- O trabalho no Convento – Mafra simboliza o espaço da servidão desumana a que D. João V sujeitou o seu povo (cerca de 40 mil trabalhadores).
6-A miséria do Alentejo – este espaço associa-se à fome e à miséria.


Espaço Psicológico:


-O espaço psicológico é constituído pelo conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens. Revela-se através dos sonhos e dos pensamentos.

Tempo :

O fluir do tempo , mais do que através da recorrência a marcos cronológicos específicos, é sugerido pelas transformações sofridas pelas personagens. - tempo da história (tempo diegético) - tempo do discurso.
Tempo Diegético - Trata-se do tempo histórico em que decorre a acção (1711 a 1730). A acção tem início no ano de 1711 : ”S. Francisco andava pelo mundo, precisamente há quinhentos anos, em mil duzentos e onze…” Datas: 1711 – promessa de construção do convento. 1716 – bênção da primeira pedra. 1717 – Baltasar e Blimunda regressam a Lisboa. 1719 – casamentos de D. José e de Maria Bárbara. 1730 – sagração do convento. 1739 – fim da acção, quando Blimunda vê Baltasar a ser queimado.
Tempo do Discurso - Por tempo do discurso entende-se aquele que se detecta no próprio texto organizado pelo narrador, através da forma como relata os acontecimentos. Pode ser apresentado de forma linear, e ou com recurso a analepses e prolepses. 


O Narrador 




Homodiegético:

·  Fala na 1ªpessoa, dialoga com outras personagens;
·  Ex : o fidalgo do cortejo do casamento dos príncipes (que explica a João Elvas o que se vai passando) e Manuel Milho.

Heterodiegético:

·  Está fora da história que narra;
·  Fala na 3ª pessoa;
·  Descreve, sentencia, profetiza.

--> Em Memorial do Convento, o narrador conta a história com apartes e comentários:

· Com uma voz distanciada e impessoal;
· Com uma voz intemporal, comentando os acontecimentos do passado à luz do presente;
· Apresentando marcas da oralidade;
· Como se estivesse dentro e fora das personagens (omnisciente).

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