domingo, 2 de fevereiro de 2014

Frei Luis de Sousa / Batalha / D.Sebastião

Biografia

Era o quarto ou quinto filho de Lopo de Sousa Coutinho, um militar que combateu na Índia e foi governador da Mina no tempo de D. João III, e de D. Maria de Noronha, filha de D. Fernando de Noronha, Capitão de Azamor.
Com pouco mais de vinte anos, viajando junto às costas da Sardenha, é feito aí prisioneiro por corsários mouros que o encarceraram em Argel, vindo a conhecer na prisão Miguel de Cervantes. Libertado em 1577, viveu durante algum tempo em Valência, regressando depois a Portugal, onde foi, em 1580, nomeado Alcaide e capitão-mor de Marialva. Por volta de 1583 casou-se com Madalena de Vilhena, viúva de D. João de Portugal. Foi provedor da Santa Casa da Misericórdia de Almada por três vezes, entre 1590 e 1597. Em 17 de Março de 1594 foi feito fidalgo cavaleiro. Em 1600 é Capitão-Mor de Almada e seu Guarda-Mor da Saúde.

Obra


  • Navigatio Antartica ad Doctorem Franciscum Guidum, civem Panamensem.
  • Vida de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires (1619), dividida nos livros primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto e sexto.
  • Primeira Parte da História de S. Domingos (1623).
  • Segunda Parte da História de S. Domingos (publicada em 1662 por Frei António da Encarnação).
  • Terceira Parte da História de S. Domingos (publicada em 1678; foi depois publicada uma quarta parte da História dos Dominicanos, em 1733, escrita por Fr. Lucas de Santa Catarina).
  • Anais de el-Rei D. João III (escrito entre 1628 e 1632 e só publicado em 1844, por A. Herculano).
  • Vida de Soror Margarida do Sacramento.
  • Vida do Beato Henrique Suso da Ordem dos Pregadores traduzida de latim em português (publicado em 1642).
  • Considerações das Lágrimas Que a Virgem N. Senhora Derramou na Sagrada Paixão (publicado em 1646) 

Espaço

Ato I:
A ação, neste ato, decorre no palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada, onde se situa a "câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos principios do sec. XVII" e onde, na cena I, se encontra D. Madalena a ler.
Ato II:
Passa-se no palácio onde D. Madalena e D. João de Portugal viveram, também em Almada, mais particularmente num "salão antigo, de gosto melancólico e pesado, com grandes retratos de familia", de onde se destacam o de el-rei D. Sebastião, de Camões e de D. João de Portugal.
Ato III:
Este momento da ação desenrola - se na "parte baixa do palácio de D. João de Portugal..." e na capela da Senhora da Piedade que com ela comunica.

Tempo

Tempo da Ação:
Ato I - fim de tarde
Ato II - oito dias depois
Ato III - altas horas da noite

Tempo Dramático:
Vem desde o casamento de D. Madalena com D. João de Portugal (antes de 1578); passa pelos sete anos em que se procurou saber do paradeiro de D. João; integra os catorze anos em que D. Madalena esteve casada com Manuel de Sousa, os oito dias em que viveu no palácio de D. João de Portugal, os três dias (1 a 3 de agosto) que este levou até chegar à presença de D. Madalena, até ao dia 4 de agosto - "Hoje".
Como se pode verificar, também o tempo dramático se vai estreitando à medida que o fim trágico se aproxima.

CARACTERÍSTICAS DO ROMANTISMO
em Frei Luís de Sousa, de A. Garrett

  • Valorização do homem como joguete, não do destino, mas das suas paixões
  • Aproximação da realidade
  • Linguagem em prosa

Caracterização da Personagens 

Madalena de Vilhena
É uma heroína romântica, vive marcada por conflitos interiores e pelo passado. Os sentimentos e a sensibilidade sobrepõe-se à razão e é uma mulher em constante sofrimento. Crê em agoiros, superstições e dias fatais (a sexta-feira). É uma sofredora, tem um amor intenso e uma preocupação constante com a filha Maria, contudo coloca a cima de tudo a sua felicidade e amor ao lado de Manuel  de Sousa, mesmo o seu amor à pátria é menor do que o que sente por Manuel. No final da obra, aceita o convento como solução,  mas fá-lo seguindo Manuel (ele foi? Eu vou)


Manuel de Sousa Coutinho
É o típico herói clássico, dominado pela razão, que se orienta por valores universais, como a honra, a lealdade, a liberdade; é um patriota, um velho português às direitas, forte, corajoso e decidido (o incêndio), bom marido, pai terno, não sente ciúmes do passado e não crê em agoiros. O incêndio e a decisão violenta de o concretizar é um traço romântico.
Contudo, esta personagem evolui de uma atitude interior de força e de coragem e segurança para um comportamento de medo, de dor, sofrimento, insegurança e piedosa mentira no acto III quando teme pela saúde da filha e pela sua condição social. No final da obra, mostra-se tão decidido como noutros momentos: abandona tudo (bens, vida, mundo)e refugia-se no convento.


Maria de Noronha
É a mulher-anjo dos românticos (fisicamente é fraca e frágil; psicologicamente é muito forte). Nobre, de inteligência precoce, é muito culta, intuitiva e perspicaz. Muito curiosa, quer saber tudo... É uma romântica: é nacionalista, idealista, sonhadora, fantasiosa, patriota, crente em agoiros e uma sebastianista. É a vitima inocente de toda a situação e acaba por morrer fisicamente, tocada pela vergonha de se sentir filha ilegítima (está tuberculosa).

          
D. João de Portugal
Nobre cavaleiro, está ausente fisicamente durante o I e o II acto da peça. Contudo, está sempre presente na memória e palavras de Telmo, na consciência de Madalena, nas palavras de Manuel e na intuição de Maria. É sempre lembrado como patriota, digno, honrado, forte, fiel ao seu rei; quando regressa, na pele do Romeiro é austero e misterioso, representa um destino cruel, é implacável, destrói uma família e a sua felicidade, mas acaba por ser, também ele, vitima desse destino. Resta-lhe então a solidão, o vazio e a certeza de que ele já só faz parte do mundo dos mortos (é “ninguém”; madalena não o reconhece; Telmo preferia que ele não tivesse voltado pois Maria ocupou o seu lugar no coração do velho escudeiro): D. João é uma figura simbólica: representa o passado, a época gloriosa dos descobrimentos; representa também o presente, a pátria morta e sem identidade na mão dos espanhóis / e é a imagem da pátria cativa.


Telmo Pais
É o velho aio, não é nobre, contudo a sua convivência com as famílias nobres, “deu-lhe” todas as características de um nobre (postura, fala, educação, cultura...). É o confidente de Madalena e de Maria.  Fiel, dedicado, é o elo e ligação entre as duas famílias (os dois maridos de Madalena), é a chama viva do passado que alimenta os terrores de Madalena. É muito critico, cria juízos de valor e é através dele que  consciência das personagens fragmentada que vive num profundo conflito interior pois sente-se dividido entre D, João e Maria, não sabendo o que fazer. É um sebastianista e sofre muito pela sua lealdade.


Frei Jorge
Irmão de Manuel de Sousa, representa a autoridade de Igreja. É também confidente de Madalena, pois é a ele que ela confessa o seu “Terrível” pecado: amou Manuel de Sousa ainda D. João era vivo. É um uma figura moderadora, que procura harmonizar o conflito, modera os sentimentos trágicos. Acompanha sempre a família, é conciliador, pacificador e impõe uma certa racionalidade, procurando manter o equilíbrio no meio de uma família angustiada e desfeita.

Batalha de Alcácer-Quibir

Batalha de Alcácer-Quibir conhecida em Marrocos como Batalha dos Três Reis,  foi uma batalha travada no norte de Marrocos perto da cidade de Ksar-El-Kebir, entre Tânger e Fez, em 4 de Agosto de 1578. Os combatentes foram os portugueses liderados pelo rei D. Sebastião aliados ao exército do sultão Mulay Mohammed (Abu Abdallah Mohammed Saadi II, da dinastia Saadiana) contra um grande exército marroquino liderado pelo Sultão de Marrocos Mulei Moluco (Abd Al-Malik, seu tio) com apoio otomano.
No seu fervor religioso, o rei D. Sebastião planeara uma cruzada após Mulay Mohammed ter solicitado a sua ajuda para recuperar o trono, que seu tio Abu Marwan Abd al-Malik I Saadi havia tomado. A batalha resultou na derrota portuguesa, com o desaparecimento em combate do rei D. Sebastião e da nata da nobreza portuguesa. Além do rei português, morreram na batalha os dois sultões rivais, originando o nome "Batalha dos Três Reis", com que ficou conhecida entre os Marroquinos.

A derrota na batalha de Alcácer-Quibir levou à crise dinástica de 1580 e ao nascimento do mito do Sebastianismo. O reino foi gravemente empobrecido pelos resgates que foi preciso pagar para reaver os cativos.
A batalha ditou fim da Dinastia de Avis e do período de expansão iniciado com a vitória na Batalha de Aljubarrota. A crise dinástica resultou na perda da independência de Portugal por 60 anos, com a união ibérica sob a dinastia Filipina.

Antecedentes

O rei D. Sebastião, cognominado "o desejado", era filho do Infante Dom João (filho de João III de Portugal) e Joana de Áustria, filha do Imperador Carlos V. Seu pai morrera antes que ele houvesse nascido, e D. Sebastião herdou o trono aos três anos, após a morte do seu avô em 1557. Foi educado quase exclusivamente por jesuítas, pelo seu guardião e tutor Aleixo de Meneses e por sua avó,Catarina de Áustria, esposa de D. João III e irmã de Carlos V. Assumiu o governo em 1568, aos 14 anos.


Preparativos para a batalha


D. Sebastião empregara uma parte significativa da riqueza do Império Português para equipar uma grande frota e reunir um grande exército. Este incluía 2.000 voluntários de Castela (liderados por Alonso de Aguilar), 3.000 mercenários vindos da Alemanha e da Flandres (comandados por Martim da Borgonha) bem como 600 italianos inicialmente recrutados para ajudar uma invasão da Irlanda sob a liderança do Inglês Thomas Stukley, bem como o auxílio em armas e munições.

Fez-se o recrutamento do exército português, mas verificou-se alguma corrupção, o que fez com que o exército expedicionário, de cerca de 15 000 a 23 000 homens, fosse em parte pouco disciplinado, mal preparado, inexperiente e com pouca coesão. A "elite" do exército era composta pelos "aventureiros", nobres portugueses veteranos nas guerras de África e do Oriente, e pelos "mercenários" estrangeiros, veteranos das guerras do norte da Europa. A força expedicionária terá reunido também 500 navios.


A Batalha

 4 de Agosto de 1578, perto de al-Kasr al-Kebir onde há hoje uma aldeia denominada Suaken, com o exército esgotado pela fome, pelo cansaço e pelo calor, deu-se a batalha.

O exército marroquino avançou em uma ampla frente planejando cercar as fileiras de D. Sebastião. Era composto por 10.000 cavaleiros nos seus flancos tendo em seu centro mouros vindos de Espanha, os quais guardavam especial ressentimento dos cristãos. Apesar de sua doença o Sultão Abd Al-Malik deixou sua liteira e liderou suas forças a cavalo.
O exército português nesta batalha tinha uma primeira linha (vanguarda) composta pelos "aventureiros" portugueses, comandados por Cristóvão de Távora, e pelos voluntários e mercenários estrangeiros, por uma ala esquerda de cavalaria pesada comandada pelo Rei D.Sebastião e por uma ala direita de cavalaria comandada pelo Duque de Aveiro. A segunda linha de infantaria (batalha) era comandada por Vasco da Silveira e a terceira linha de infantaria (retaguarda) por Francisco de Távora. A artilharia estava posicionada sobretudo na primeira linha.

A batalha começou com ambos os exércitos trocando fogo de mosquetes e artilharia. Thomas Stukley, comandando os voluntários italianos foi morto por uma bala de canhão no começo da batalha. A superior, em número, cavalaria moura avançou cercando o exército português, enquanto as forças principais se engajavam completamente em combate corporal. No centro da vanguarda do exército português, os experientes "aventureiros" comandados por Cristóvão de Távora avançaram com grande ímpeto provocando o recuo e a debandada da vanguarda moura. Para deter essa debandada das suas forças, o debilitadoMulei Moluco, monta o seu cavalo pela última vez e morre com o esforço momentos depois. A sua morte é ocultada até ao final da batalha. Próximo do acampamento do líder mouro, o ataque português perde impulso após o comandante se ter apercebido que tinham ficado demasiado afastados do restante exército, assim, correndo risco de isolamento começam a recuar. Vendo seus flancos comprometidos pelo ataque da cavalaria moura, ameaçado ele próprio pela mesma e em retirada o centro português perdeu as esperanças e foi subjugado lentamente. D.Sebastião perante a derrota inevitável, recusa os conselhos de outros nobres para que se renda, tendo dito: "Senhores, a liberdade real só há de se perder com a vida". Os nobres que o acompanhavam a cavalo conformam-se em prosseguir o combate até ao fim, tendo D.Sebastião dito a estes: "Morrer sim, mas devagar!"





Desenlace

A batalha terminou após 4 horas de combate intenso com a completa derrota dos exércitos de D.Sebastião e Abu Abdallah Mohammed II Saadi com quase 9.000 mortos e 16.000 prisioneiros nos quais se incluem grande parte da nobreza portuguesa. Talvez 100 sobreviventes tenham escapado com custo.
Abu Abdallah Mohammed II Saadi, aliado dos portugueses, tentou fugir ao massacre em que a batalha se convertera mas morreu afogado no rio. O Sultão Abd Al-Malik (Mulei Moluco) também morreu durante a batalha, mas de causas naturais, uma vez que o esforço da batalha foi demais para seu estado debilitado. D. Sebastião por sua vez desapareceu liderando uma carga de cavalaria contra o inimigo e seu corpo jamais foi encontrado. Nestas condições, o exército português, pesem alguns atos de grande bravura, foi completamente dizimado. Apesar de na época duvidarem da morte do rei português, é muito provável que ele nesta batalha tenha perecido.

Consequências

As consequências desta batalha foram catastróficos para Portugal. D. Sebastião desaparecera, deixando como sucessor o seu tio-avô, o Cardeal D. Henrique, que veio a falecer sem descendência dois anos depois. Assim iniciou-se uma crise dinástica ameaçando a independência de Portugal face a Espanha, pois um dos candidatos à sucessão era o seu tio, Filipe II de Espanha.
A disputa do trono português teve vários pretendentes: D. Catarina de Médici, rainha da França, que se dizia descendente de D. Afonso III; D. Catarina,duquesa de Bragança e sobrinha do Cardeal D. Henrique; Manuel Felisberto, duque de Savoia e António de Portugal, Prior do Crato, ambos, sobrinhos do rei;Alberto de Parma e Filipe II.
Filipe efetivamente ascendeu ao trono em 1580. A maioria da nobreza portuguesa que participara na batalha ou morreu ou foi feita prisioneira. Para pagar os elevados resgates exigidos pelos marroquinos, o país ficou enormemente endividado e depauperado nas suas finanças.
Luís Vaz de Camões escreveu, numa carta a D. Francisco de Almeida, referindo-se ao desastre de Alcácer-Quibir, à ruína financeira da Coroa portuguesa e à independência nacional ameaçada: "Enfim acabarei a vida e verão todos que fui tão afeiçoado à minha Pátria que não só me contentei de morrer nela, mas com ela".
Perto de al-Kasr al-Kebir, numa aldeia denominada Suaken onde se deu a Batalha e, provavelmente, onde foram, naquela altura, enterrados os três reis, encontra-se um obelisco em memória de D. Sebastião e mais dois em memória dos outros dois reis. A batalha ainda hoje é conhecida em Marrocos como a "Batalha dos Três Reis".

D. Sebastião

D. Sebastião I de Portugal (Lisboa, 20 de Janeiro de 1554 — Alcácer-Quibir, 4 de Agosto de 1578) foi o décimo sexto rei de Portugal, cognominado O Desejado por ser o herdeiro esperado da Dinastia de Avis, mais tarde nomeado O Encoberto ou O Adormecido. Foi o sétimo rei da Dinastia de Avis, neto do rei João III de quem herdou o trono com apenas três anos. 


Nascimento

Era filho do príncipe Dom João e de Dona Joana de Áustria. Seus avôs paternos eram o rei de Portugal Dom João III e a Rainha Dona Catarina. Seus avôs maternos eram o imperador Carlos V e a Imperatriz Dona Isabel. Dona Isabel era irmã de Dom João III.

Reinado


Aos 14 anos, D. Sebastião assume a governação. Sonhava com batalhas, conquistas e a expansão da Fé, profundamente convicto de que seria o capitão de Cristo numa novacruzada contra os mouros do Norte de África.
D. Sebastião começou a preparar a expedição contra os marroquinos da cidade de Fez. Filipe II de Espanha, seu primo, recusou participar e adiou o casamento de D. Sebastião com uma das suas filhas para depois da campanha.
O exército português desembarcou em Marrocos em 1578 e D. Sebastião rumou imediatamente para o interior. Tinha 24 anos de idade.

Desaparecimento

Na batalha de Alcácer-Quibir, o campo dos três reis, os portugueses sofreram uma derrota às mãos do sultão Abd al-Malik (Mulei Moluco) e perderam uma boa parte do seu exército. Quanto a D. Sebastião, morreu na batalha ou foi morto depois desta terminar. Conta-se que, ao ser aconselhado a render-se, e a entregar a sua espada aos vencedores, o rei se tenha recusado com altivez, dizendo: "A liberdade real só há de perder-se com a vida."  Foram as suas últimas palavras, e é-nos dito que ao ouvi-las, "os cavalleiros arremeteram contra os infieis; D. Sebastião seguiu-os e desapareceu aos olhos de todos envolto na multidão, deixando ... a posteridade duvidosa ácerca do seu verdadeiro fim. Há quem defenda, por outro lado, que o seu corpo tenha sido enterrado logo em Ceuta, "com toda a solemnidade". Mas para o povo português de então o rei havia apenas desaparecido. Este desastre teria as piores consequências para o país, colocando em perigo a sua independência. O resgate dos sobreviventes ainda mais agravou as dificuldades financeiras do país.



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