quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raíz --
Ter por vida sepultura.

Eras sobre eras se somen
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.

Grécia, Roma, Cristandade,
Europa -- os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?

Este texto épico “Quinto Império” de Fernando Pessoa, faz parte de uma obra constituída por vários textos, o qual se chama “Mensagem”. Neste poema Fernando Pessoa faz o tema central do texto “D. Sebastião” com o cognome “O Desejado”, foi o décimo sexto rei de Portugal, é conhecido pela lenda de que vai aparecer num dia de nevoeiro em cima do seu cavalo, como fosse um “messias” que vem salvar Portugal.
D. Sebastião subiu ao trono muito cedo e era muito ambicioso, pois parecendo não chegar império que Portugal possuía ainda queria conquistar África. Foi à custa dessa ambição que provavelmente faleceu. D. Sebastião morreu na batalha de Alcácer – Quibir, no nordeste de África, batalha qual saímos derrotados e ainda tivemos como consequência a crise no trono como a perda da independência perante o domínio para a disnatia Filipina.
O Quinto Império é uma crença messiânica, milenarista, concebida pelo padre António Vieira no século XVII. Os quatro primeiros impérios eram, segundo o padre António Vieira, pela ordem: os Assírios, os Persas, os Gregos e os Romanos. O quinto seria o Império Português. De acordo com as escrituras Hebraicas (Antigo Testamento), no livro de Daniel, capítulo 2, aquele religioso veio a basear este mito num trecho bíblico, que narra a história do rei Nabucodonosor e do seu sonho, com uma estátua erguida com cinco tipos de materiais.
Posteriormente a utopia do Quinto Império permeará a obra de Fernando Pessoa nomeadamente na obra "Mensagem". No caso de Pessoa os quatro primeiros impérios diferem dos de Vieira, sendo o primeiro o Império Grego, o segundo o Império Romano, o terceiro o Cristianismo e o quarto a Europa. O Quinto Império foi uma forma de legitimar o movimento autonomista português, que conseguira o fim da União Ibérica.
Este poema está divido basicamente em três partes. A primeira parte, que é constituída pela estrofe 1ª e 2ª, fala da falta de ambição do homem, que se contenta com pouco, a segunda parte é constituída pela estrofe 3ª, fala do passar do tempo, e o que homem ao longo desse tempo acabou por ficar sem objectivos, acabando por se verificar que o verdadeiro homem é descontente, e por último, a última parte que é constituída pela 4ª e 5ª estrofes que fala do aparecimento de um quinto império que seria a junção dos outro quatro (Grécia, Roma, Cristandade, Europa) num só que pertenceria a Portugal.
Pessoa tenta transmitir uma sensação de que ser feliz não é só viver o dia-a-dia e conformarmo-nos com o que temos, mas sim ter ambição de maneira a tentar ir mais longe e ser verdadeiramente feliz, ou seja viver para o sonho, para algo que ainda não alcançamos, “ Triste de quem vive em casa,” (v1). Explica também que desde que o homem existe, é inevitável que o seu destino seja outro a não ser a morte. "a lição da raiz - ter por vida a sepultura" (v9 a 10), mas Fernando Pessoa é contra esta ideia pois a vida não deve ser vivida só por viver mas sim vivida ao máximo e com muita ambição. Fernando Pessoa faz referência na sua obra às escrituras Hebraicas (antigo testamento), referindo um sonho com que fala de uma estátua erguida com 4 metais (4 impérios consecutivos, e que o quinto seria este que Fernando Pessoa fala). " (…) passados os quatro tempos do ser que sonhou" (v16 e 17).

O escritor imagina o Quinto Império, como um Império de luz, um Império de salvação. "Quem vem viver a verdade?" (v24). A meu ver Fernando Pessoa tenta mostrar com esta obra que D. Sebastião morreu mas, dando ênfase ao mito, que ele vai voltar numa manhã de nevoeiro como um salvador “messias” de maneira a salvar Portugal e criando assim depois dos outros quatro impérios, "Grécia, Roma, Cristandade, Europa" (v21), o Quinto Império, o Império Português que viria assim legitimar o movimento autonomista do povo português. 

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