Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raíz --
Ter por vida sepultura.
Eras sobre eras se somen
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa -- os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raíz --
Ter por vida sepultura.
Eras sobre eras se somen
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa -- os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
Este texto épico “Quinto Império” de
Fernando Pessoa, faz parte de uma obra constituída por vários textos, o qual se
chama “Mensagem”. Neste poema Fernando Pessoa faz o tema central do texto “D.
Sebastião” com o cognome “O Desejado”, foi o décimo sexto rei de Portugal, é
conhecido pela lenda de que vai aparecer num dia de nevoeiro em cima do seu
cavalo, como fosse um “messias” que vem salvar Portugal.
D. Sebastião subiu ao trono muito cedo e
era muito ambicioso, pois parecendo não chegar império que Portugal possuía
ainda queria conquistar África. Foi à custa dessa ambição que provavelmente
faleceu. D. Sebastião morreu na batalha de Alcácer – Quibir, no nordeste de
África, batalha qual saímos derrotados e ainda tivemos como consequência a
crise no trono como a perda da independência perante o domínio para a disnatia
Filipina.
O Quinto Império é uma
crença messiânica, milenarista, concebida pelo padre António
Vieira no século XVII. Os quatro primeiros impérios eram, segundo o
padre António Vieira, pela ordem: os Assírios, os Persas,
os Gregos e os Romanos. O quinto seria o Império Português.
De acordo com as escrituras Hebraicas (Antigo Testamento), no livro
de Daniel, capítulo 2, aquele religioso veio a basear este mito num
trecho bíblico, que narra a história do rei Nabucodonosor e do
seu sonho, com uma estátua erguida com cinco tipos de materiais.
Posteriormente a utopia do Quinto
Império permeará a obra de Fernando Pessoa nomeadamente na obra
"Mensagem". No caso de Pessoa os quatro primeiros impérios diferem
dos de Vieira, sendo o primeiro o Império Grego, o segundo o Império
Romano, o terceiro o Cristianismo e o quarto a Europa. O Quinto
Império foi uma forma de legitimar o movimento autonomista português, que conseguira
o fim da União Ibérica.
Este poema está divido basicamente em
três partes. A primeira parte, que é constituída pela estrofe 1ª e 2ª, fala da
falta de ambição do homem, que se contenta com pouco, a segunda parte é
constituída pela estrofe 3ª, fala do passar do tempo, e o que homem ao longo
desse tempo acabou por ficar sem objectivos, acabando por se verificar que o
verdadeiro homem é descontente, e por último, a última parte que é constituída
pela 4ª e 5ª estrofes que fala do aparecimento de um quinto império que seria a
junção dos outro quatro (Grécia, Roma, Cristandade, Europa) num só que
pertenceria a Portugal.
Pessoa tenta transmitir uma sensação de que ser feliz não é só viver o dia-a-dia e
conformarmo-nos com o que temos, mas sim ter ambição de maneira a tentar ir
mais longe e ser verdadeiramente feliz, ou seja viver para o sonho, para algo
que ainda não alcançamos, “ Triste de quem vive em casa,” (v1).
Explica também que desde que o homem existe, é inevitável que o seu destino
seja outro a não ser a morte. "a lição da raiz - ter por vida a
sepultura" (v9 a 10), mas Fernando Pessoa é contra esta ideia pois a
vida não deve ser vivida só por viver mas sim vivida ao máximo e com muita
ambição. Fernando Pessoa faz referência na sua obra às escrituras Hebraicas
(antigo testamento), referindo um sonho com que fala de uma estátua erguida com
4 metais (4 impérios consecutivos, e que o quinto seria este que Fernando
Pessoa fala). " (…) passados os quatro tempos do ser que sonhou" (v16
e 17).
O escritor imagina o
Quinto Império, como um Império de luz, um Império de salvação. "Quem vem
viver a verdade?" (v24). A meu ver Fernando Pessoa tenta mostrar com esta obra que D.
Sebastião morreu mas, dando ênfase ao mito, que ele vai voltar numa manhã de nevoeiro
como um salvador “messias” de maneira a salvar Portugal e criando assim depois
dos outros quatro impérios, "Grécia, Roma, Cristandade, Europa"
(v21), o Quinto Império, o Império Português que viria assim legitimar o
movimento autonomista do povo português.
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